Os alvos dos «skins»
PJ fez buscas na cadeia
Durante uma semana as fotografias de 23 jovens, rapazes e raparigas, ilustrou a página do «site» Fórum Nacional, ponto de encontro cibernético da extrema-direita em Portugal. Eram alvos a abater. “Havia mensagens claras de incitação à agressão àqueles elementos. A única coisa estranha é que eram todos brancos e com aspecto físico semelhante ao dos «skinheads»”, conta uma fonte judicial. Eram todos membros de grupos de «skins» de extrema-esquerda ou anti-racistas, como os «red-skins» ou os SHARPS (Skin Heads Against Racism Prejudice), inimigos dos cabeças rapadas neonazis. As fotos foram retiradas da Internet - de «sites» de extrema-esquerda, do Messenger e do fórum HI5.
Entre 2004 e 2007, em vários locais da Grande Lisboa e na margem sul, seis destes jovens acabaram por ser agredidos violentamente ou ameaçados com armas de fogo, como sucedeu ao membro da claque do Estoril ligada à extrema-esquerda. Uma rapariga foi espancada a pontapé, em Corroios, por dois dos detidos pela PJ no mês passado e ficou com quatro dentes partidos. Há outra jovem que também foi atacada na rua. Um dos agredidos reconheceu os atacantes e acabou por lançar a Polícia Judiciária na pista do grupo mais radical dos «skinheads» de extrema-direita, os «hammerskins». As várias queixas dispersas nas esquadras da PSP e da GNR foram sendo organizadas num único processo.
O Expresso sabe que a maior parte dos dez detidos pela PJ a 18 de Abril deste ano estão envolvidos, directa ou indirectamente, nestas agressões. Mário Machado, o único a ficar em prisão preventiva, terá participado numa das agressões. “E deu indicações precisas sobre as moradas e os locais onde costumavam parar todos os outros”, garante a fonte. Os seis agredidos são testemunhas no processo contra os «skinheads» e uma cópia da página do Fórum Nacional é uma das provas que vão constar na acusação do Ministério Público. No processo há várias páginas do Fórum com conversas de incitamento ao ódio racial entre os participantes. O fórum foi encerrado.
Outra das provas recolhidas pela PJ resulta de uma vigilância a um grupo de 12 «hammerskins» que se deslocou à cidade da Maia, no Norte do país para uma acção punitiva contra o líder dos Blood and Honour, um grupo neonazi rival. O alvo trabalhava na peixaria do Jumbo da Maia. Quando o grupo chegou, o hipermercado já tinha fechado. Os «skins» foram fotografados a forçar a entrada à procura do peixeiro, que entretanto já tinha saído.
No regresso ao Porto o grupo avistou um homem negro ao volante de um Porsche. Barraram-no, obrigaram-no a parar e atacaram o carro a soco e pontapé. “A sorte do homem foi nunca ter saído do carro”, explica a mesma fonte. A polícia fotografou tudo, mas não chegou a intervir. O processo está a correr no DIAP, ainda na fase de inquérito e poderá ter novos arguidos. Há duas semanas, a PJ fez revistas em duas cadeias do país. Em Paços de Ferreira, onde está detido Michael Gonçalves, que cumpre 18 anos de prisão pelo homicídio de um árabe em França, foi apreendida uma bandeira nazi, material de propaganda e um blusão de «hammerskin». No Estabelecimento Prisional de Lisboa foi revistada a cela de Paulo Veríssimo, que cumpre quatro anos e meio de cadeia por tráfico de droga, depois de ter sido apanhado com cerca de dois quilos de cocaína quando regressava de Cabo Verde.
Foi também encontrado material de propaganda nazi e na casa dos pais do recluso foi apreendida uma caçadeira ilegal que Veríssimo admitiu ser sua. Estes dois reclusos têm ligações fortes com os «skinheads» neonazis. A 18 de Abril a PJ deteve dez homens suspeitos de pertencerem aos «hammerskins». Estão todos indiciados por agressões e pelo crime de incitamento à xenofobia.
Polícia é arguido no processo
O agente não esconde aos colegas as convicções nacionalistas e foi detido em flagrante na posse de armas proibidas
Um agente da Polícia Municipal de Oeiras foi constituído arguido no chamado processo dos «skinheads». A casa onde mora foi alvo de uma busca e os inspectores da Polícia Judiciária encontraram uma soqueira e um bastão extensível - armas proibidas por lei.
O polícia não chegou a ser presente ao juiz de instrução criminal mas foi interrogado nas instalações da Direcção Central de Combate ao Banditismo e constituído arguido pela posse de armas ilegais. O polícia, que continua ao serviço em Oeiras, é um velho conhecido dos investigadores que seguem os passos dos movimentos «skin» e nacionalista. “Foi ele que pediu autorização ao Governo Civil para a manifestação anti-imigração do Martim Moniz, há dois anos”, conta uma fonte policial.
Durante o tempo em que os «skinheads» mais radicais foram vigiados e escutados pelos investigadores da DCCB, o polícia municipal nunca se envolveu em situações de violência ou criminosas. Mas é um frequentador habitual do Fórum Nacional na Internet e tornou-se um alvo para a PJ.
0 comentários:
Enviar um comentário