Nos dias de hoje, compreende-se por “skinhead” um marginal racista que luta por ideais de extrema-direita. Esta injustificada acepção foi nos dada pela comunicação social e por grupos de “neo-nazis” que resolveram adoptar o estilo skin sem se preocuparem em conhecer as suas origens. Estamos na Jamaica em 1962, depois de largos anos de domínio imperialista britânico que deixaram este país na miséria (salvo os locais de interesse turístico), a Jamaica teve finalmente a sua independência. Os jovens deparam-se então com uma vida sem futuro e migram para as cidades, onde podiam encontrar casas alugadas pelo governo, ou na pior das hipóteses, podiam construir barracas para viver nos subúrbios de kingston. O desespero e a raiva entre os jovens jamaicanos crescia devido aos problemas sociais, os confrontos com a polícia aumentavam, inclusive o arrasar de um bairro por parte dos bulldozers do governo. Assim surgiram os guetos de Shanty Town e Trencttown onde se formavam gangs de jovens delinquentes, pistoleiros e traficantes de marijuana. Dos guetos surgem também novos ritmos influenciados pelo Jazz e Rhytm&Blues, primeiro o Ska (música skinhead por excelência), depois o RockSteady e mais tarde o Reggae. Estes novos estilos fizeram aparecer editoras como a Blue Beat (nome dado ao ska em Inglaterra) e a Trojan Records que englobava bandas como os Skatalites, Symarip, Judge Dread, The Maytals e vocalistas como Desmond Dekker, Laurel Aitken, Prince Buster, Lee Perry e Lord Creator, cujas letras reflectem o quotidiano de violência e miséria que se vivia nos subúrbios, eles tinham como público os RUDE-BOYS, que se vestiam de forma elegante imitando os seus heróis dos filmes de gangsters, sendo eles para muitos os primitivos Skinheads. A violência rude ficou entre estes jovens jamaicanos e surgem então os hinos aos Rude-Boys como “Tougher than tough” de Derrick Morgan, “Judge dread” de Prince Buster e especialmente “007” de Desmond Dekker que em 67 entra nas tabelas de venda inglesas chegando ao 14º lugar graças sobretudo às comunidades Caraíbas emigradas na Grã-Bretanha. Como não havia trabalho na Jamaica, alguns grupos populacionais partem para os subúrbios operários ingleses, onde se começam a relacionar com jovens britânicos, sobretudo com os Hard-Mods, pois estes eram apreciadores de R&B e Soul. Contudo, por esta época, o movimento Mod entrava em plena decadência, estes jovens encarnavam no seu estilo, uma esperança de ascensão social que em breve foi destruída pela crise. Assim, a partir de 1965-66, estes jovens que tinham produzido a inovadora cultura modernist - ou pelo menos os não homologados na swinging London de Mary Quant e do psicadelismo - reagem à crise económica e à cada vez mais evidente exclusão social, tomando uma atitude estética mais agressiva que realçasse a sua condição de subalternidade social. Distantes dos excessos consumistas publicitados pelos massmedia, os Hard-mods criam o seu estilo com um casacão parka, um pólo fred-perry e um corte de cabelo cada vez mais curto contrastando com o penteado “à francesa” dos Trendy Mods. Devido à sua condição social, estes jovens acabam por se reapropriar do contexto original da working class: as ruas do bairro, o pub da esquina e o campo de futebol local. Outros viajam como penduras nas scooters dos amigos mais afortunados. O aparecimento da era psicadélica e do hippismo, encontra a oposição destes jovens que quebram o sentido de agregação étnica e que já em 1964, nos slums londrinos de Margate e de Brixton, rapam a cabeca, vestem de dia botas de trabalho, suspensórios finos e jeans curtas nos tornozelos, e que à noite se transformam em elegantes rude-boys, que ouvem ska e R&B, são os primeiros convictos “negros brancos” ou Skinheads. Rude-Boys e SuedeHeads misturavam-se nas dancehalls (pois estes dois grupos tinham gostos musicais idênticos), nos pubs e nos estádios de futebol onde participaram no aparecimento dos Hooligans. A vitória da Inglaterra no campeonato de 66 atraiu milhares de jovens ao futebol generalizando-se as claques e explodindo a violência entra elas. Quando Desmond Dekker chega a Inglaterra numa digressão para promover sucessos como “007”, actuando em pleno uniforme rude, camisa Fred Perry o fenómeno generaliza-se, e são as influências destas duas culturas (Hard-Mods e Rude-Boys) que fazem nascer o movimento SKINHEAD. Botas, suspensórios finos, cabelos curtos, scooters, roupa com estilo e música negra é o que domina o espírito de 69, Rude-Boys e skins negros e brancos influenciados pela cultura operária inglesa e pela cultura jamaicana. Prática comum nos jovens deste tempo, era também o Paki-Bashing, que pode ser lido como uma manobra de diversão por meio da qual o medo e a ansiedade, produzidos pela limitada identificação com um grupo de negros, se transformavam em agressividade em relação a outra comunidade negra. Contudo esta análise parece não ter em conta o ódio e o rancor de alguns skins em relação ao paquistanês, estereotipado na figura do comerciante ávido que enriquece à custa dos pobres. O movimento original Skinhead teve uma curta mas intensa existência (mais ou menos até 1972) desaparecendo como movimento predominante e sobrevivendo apenas em pequenos núcleos isolados onde os esquemas comportamentais do proletariado juvenil permanecem invariados. Esta situação deveu-se à evolução musical e à associação que os massmedia faziam deste movimento com a violência. Como Rody Moreno, vocalista dos The Oppressed (grande banda de oi!) e skinhead desde os anos 60, afirma: “É certo que havia violência mas acima de tudo devíamo-nos debruçar nos porquês dela. Fundamentalmente eram pequenos confrontos entre grupos de skins rivais (por bairros, não por política), com motoqueiros e rockers. Inclusivamente as cenas de pancadaria com paquistaneses (paki-bashing) não eram diferentes das outras com pessoas brancas, ou seja, não tinham origem racista. Existiam grupos de skins paquistaneses, negros e inclusivamente orientais. Seja como for a violência pode aparecer em qualquer parte, inclusivamente numa reunião de moradores”. Ska&oi! 2 tone e o ressurgir da cultura skinhead Foi preciso esperar quase uma década para que a cultura skinhead ressurgisse. Mas desta vez os skinheads vieram à luz abraçando a música Punk e a 2ª vaga do Ska que ficou conhecido por 2 tone. As culturas Punk e Skin vão ser muito importantes uma para a outra. O Punk que é uma cultura “irmã” e que estava bastante ligada aos filhos da classe operária, vai ajudar o skin a revitalizar-se; e por outro lado o Skin vai ajudar o Punk, que se estava a tornar numa cena muito comercial em direcção à new wave, a voltar para as ruas agora num estilo 100perário, paralelo ao Punk, mas mais radical nas suas críticas contra o sistema social estabelecido, este novo género musical foi rotulado de “OI!” por Gary Bushell, jornalista do Sounds (jornal musical) inspirado no tema dos cockney rejects “oi!oi!oi!”, que por sua vez era o grito de rebeldia da classe operária. O ressurgir da cena com um sentimento mais operário levou também ao revivalismo do ska, que ficou conhecido como 2 Tone, que por sua vez é o nome de uma editora discográfica propriedade dos Specials onde se integravam nomes como os Specials, Selecter, The Beat, Bad Manners, Madness e muitos outros. Assim o movimento volta a ganhar aquela “negritude” que se perdera nos anos Setenta, e que deixara um vazio tal que induziu alguns skins a repudiar as suas próprias origens e a aderir as teses racistas, tão caras à cultura dominante, de grupos neo-nazis como o National Front. Nas palavras de Rody Moreno: “Infelizmente esta segunda onda de skins, finais dos anos 70 e início dos anos 80, foi infiltrada por racistas e fascistas. Estes Boneheads (nome dado aos skins nazis) levaram a opinião pública a pensar que todos os skinheads são racistas.” Aproveitando, uma fase de modernização industrial que afectou sobretudo a classe operária, alguns partidos fascistas ingleses como o National Front (N.F) que mais tarde deu origem ao British National Party (B.N.P), tentaram fazer crer que a culpa das dificuldades por que passava a classe trabalhadora, eram dos imigrantes. Esta velha história da carochinha, que põe sempre os imigrantes como os primeiros culpados de qualquer crise económica fez com que alguns skins e até punks, fossem recrutados para as fileiras do Young Nacional Front sobretudo nos jogos de futebol, o N.F viu no dia-a-dia de violência destes jovens, a oportunidade de propagar a sua ideologia e mais tarde acaba por convencionar-se que a estética skinhead ia melhor com estas ideias. É devido a esta infiltração, que em 1981 se decide organizar um concerto para provar que o oi! nada tinha a ver com o fascismo. Southall foi o local escolhido, uma zona de imigrantes asiáticos que recebeu as bandas 4skins, Last Resort e The Business. Mas foi pior a emenda que o soneto, pois uma minoria de jovens parvinhos decidem pintar a zona com slogans fascistas, algo a que os asiáticos respondem em força na hora do concerto, o que lançou o caos entre skins, asiáticos e mais tarde a polícia. Aproveitando-se, deste e de outros incidentes, a merda da comunicação social sempre à procura das massas estúpidas para vender “espectáculo”, levou a opinião pública a pensar que todos os skinheads eram racistas, algo que se veio tornando habitual. Em 1982 por iniciativa do Young National Front e de uma banda punk-rock de extrema-direita, os Skrewdriver, nasce a organização Rock Against Communism, cujas actividades contemplam a organização de concertos e a produção de um mensário de neo-nazi rock, “Blood and Honour”. Recorde-se que os Skrewdriver, no seu início, não eram uma banda neo-nazi, chegaram mesmo a dividir o palco com bandas de ska como os madness, tendo depois sido reformada a banda para que pudesse ser apoiada pela National Front, alguns dos membros dos Skrewdriver não se mostraram muito interessados nisso. Em 1983 Ian Stuart vocalista desta banda, morre num acidente de carro. A resposta organizada Esta falsa imagem passada pela comunicação de que todos os Skinheads eram neo-nazis alastrou a toda a Europa. Para travar esta ascensão politica de extrema-direita, nascem por volta de 1984/86 na França, os Redskins em redor da banda Bérurier Noir para que se criasse uma espécie de serviço de segurança que se encarrega de proteger os festivais e impedir os “fachos” de entrar. É o nascimento do primeiro “bando” importante de Redskins; os Red Warriors, e também dos primeiros "caçadores" de fachos parisienses. Os Red Warriors (entre outros) encarregam-se apenas de fazer mudar o medo de campo, não foram um grupo muito preocupado com a cena Skinhead. Três anos mais tarde, não existe mais ninguém (pelo menos em Paris) que apareça com a bandeira francesa no "bomber". Numerosos bandos são formados como os "Lenine Killers", a "Red Action Skinhead" e, em Marselha, os "Massilia Red Army". Eles dão azo a que apareça um fenómeno bem menos interessante, o de "caçadores" de Skins. Se alguns bandos, como os "Ducky Boys", tinham uma ética e regras de comportamento, outros não eram mais que provocadores de conflitos que se tornariam tão perigosos para quem atravessasse o seu caminho. Em 1985 um grupo de skins nova-iorquinos decide criar a S.H.A.R.P –SkinHeads Against Racial Prejudice- que em português significa skinheads contra o preconceito racial, cujo principal objectivo era difundir a autêntica cultura skinhead e banir a politica e o racismo da cena Skinhead, pois as querelas políticas entre skins só serviam para dividir o pessoal. Diz-nos Rody Moreno “Em 1988 visitei Nova-Iorque e num concerto deram-me um manifesto da S.H.A.R.P. Quando regressei ao Reino Unido comecei a espalhar as ideias da S.H.A.R.P e hoje em dia o mundo está cheio de skinheads orgulhosos da sua cultura”. Segundo as suas declarações “Os skins nazis estão em declínio e os verdadeiros skinheads estão a aumentar. A S.H.A.R.P teve um papel muito importante em reinstalar o orgulho skinhead, e é aos skins de Nova-Iorque a quem temos de agradecer”. Para terminar afirma: “Estamos em 1997 e eu passei 28 anos no movimento e ainda sinto o mesmo orgulho da classe operária como tinha em 1969”. A finais de 1993 como consequência de um incidente provocado por supostos membros da S.H.A.R.P., cria-se em Nova Iorque a R.A.S.H. (Red & Anarchist SkinHeads) formada por skinheads anarquistas e comunistas, renunciando ao apoliticismo da S.H.A.R.P. A maioria dos skinheads, a nível mundial, podem não ser anjinhos, e fazem questão de não o ser, mas não são racistas nem nazis. Para mim a cultura skinhead não tem como objectivo a praxis política. A discordância politica entre os skins Antifas não justifica a separação entre o pessoal, Os verdadeiros Skinheads sabem pôr a política de parte quando disso se trata.
Fonte: M.A.P.