quarta-feira, 14 de março de 2007

Tarrafal, fascismo e o branqueamento da história em Portugal

Excerto de um artigo publicado por Paulo Marques (Membro da Comissão Política da Direcção Nacional da JCP) no sítio oficial da JCP


A 29 de Outubro de 1936 foi aberto o Campo de Concentração do Tarrafal, onde durante 19 anos, mais de trezentos resistentes antifascistas sofreram a violência e a brutalidade fascistas. O “campo da morte lenta”, como ficou conhecido, foi apenas mais uma dimensão dos crimes cometidos pelo Fascismo em Portugal. Nestes anos negros da nossa história contemporânea, são inúmeros os exemplos da repressão sobre o Povo Português.

No entanto, muitos portugueses, sobretudo jovens não sabem o que foi o Fascismo, não ouviram falar da censura, das torturas, da fome, do obscurantismo e da repressão; e não sabem o que foi a Revolução de Abril, acontecimento que libertou o nosso país e rasgou horizontes de um Portugal novo, livre, democrático, fraterno, sem exploração nem desigualdades sociais. A responsabilidade pelo branqueamento da história, não é, no entanto, dos jovens, mas sim dos interessados em esconder o Fascismo em Portugal. São muitos os exemplos de como omitir e transmitir de forma deformada a história. No Ensino Secundário, no 12º ano, na disciplina de História, para além da importância relativa dada ao 25 de Abril (5 páginas num total de 600), e à caracterização do Fascismo (8 páginas num total de 600), em nenhuma parte é referido o campo de Concentração do Tarrafal. Troca-se constantemente a expressão de “Fascismo em Portugal” para a de “Estado Novo”, tentando suavizar e construir uma imagem diferente do regime.

Mas, mais grave do que não transmitir a verdade sobre a nossa história recente, é os jovens serem confrontados com práticas que têm muito pouco a ver com Abril e as suas conquistas e se relacionam mais com os tempos que antecederam a revolução. O facto de, recentemente, dirigentes estudantis terem sido constituídos arguidos, ao abrigo de uma lei feita antes do 25 de Abril de 1974, por convocarem uma manifestação; de directores de jornais afirmarem que as manifestações de rua são acções antidemocráticas e quando a liberdade de expressão é constantemente abafada, o que está a ser transmitido às novas gerações são os valores e as práticas do Fascismo.

A transformação num plano ideológico, que se reflecte de forma clara nos conteúdos transmitidos pela escola, é apenas o espelho das transformações ocorridas na (infra)estrutura, isto é, com a profunda transformação na correlação de forças, com a destruição das conquistas conseguidas com a revolução, e sabendo nós que a ideologia dominante é a ideologia da classe dominante, é claro que a essa classe, não interessa falar do que foi o fascismo.

Por último, se por um lado a ofensiva ideológica é fortíssima, existe uma memória histórica, que está na consciência do povo português e que não é possível destruir. O poder de passar a palavra, de lutar no presente para lembrar o passado, são instrumentos ao nosso alcance para combater esta ofensiva. Não foi preciso aprender na escola, nem ver na televisão, que só unidos fazemos frente às injustiças, nem que quem luta, pode perder, mas quem não luta perde sempre - isso aprende-se na acção.

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